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OPINIÃO: De Viena a Paris

Viena novamente nos acolhe na passagem de um ano para outro! Wieder in Wien! Outra vez em Viena, como sempre. Para sempre? Cá estamos agora, 31 de dezembro de 2018, no Sacher Hotel, como sempre. Começo a escrever este texto enquanto Tania se prepara para irmos ao Musikverein. O concerto do Ano Novo - Neujahrskonzert - do qual participamos há muitos anos!  

Caminhamos buscando a simplicidade por esta cidade que há séculos nos acolhe. É como se, ao passarmos por uma de suas ruas, alguém observasse que não somos turistas. Fomos adotados por Viena. Por conta disso, estendemos seus limites até onde nos expandimos, avançando pelos campos austríacos.

Ontem, foi assim. Em uma dobra desdobrada de Viena, quase lá na fronteira da Hungria, na pequena cidade de Eisenstadt, flanamos em torno e no interior do Esterházy Palace. A história e a arquitetura deste palácio são encantadoras desde quando surgiu, no século XVII, pelas mãos do príncipe Paul Esterházy. E lá, dentro dele, a Sala Haydn! Um salão maravilhoso, enorme, que já existia mesmo antes de Haydn ter vindo para cá, a partir de então produzindo música para os Esterházy durante 40 anos!

Os enredos da vida nos desafiam. Isso porque todo o mundo conhece e admira Joseph Haydn e somente os austríacos e uns poucos turistas de passagem por Eisenstadt guardam alguma lembrança de quem foi o príncipe Paul Esterházy.

Agora é como se caminhássemos contra o vento, lentamente, pelas pequenas ruas do centro de Viena. Mais dois passos adiante, no entanto, e nos reencontramos em Paris. Como se, múltiplos, superássemos espaço e tempo. O que então nos encanta é o retorno ao quartier Saint-Germain-des-Près, que deixamos há 10 dias. Por aqui, tudo existe e, concomitantemente, não existe. Inclusive o príncipe e Haydn caminhando em direção à igreja, sem nos reconhecer...

Passamos pela esquina da rue de Rennes com o bulevar e lá estão, no Le Royal Saint-Germain, duas velhas burguesas que mandaram preparar um steak tartare para o poodle de uma delas. Um steak tartare sem nenhum tempero, carne moída somente... Eu era jovem e - como escrevi no Triângulo no ponto - aquela era uma das minhas primeiras noites em Paris! Minha ração diária de francos não dava acesso àquele espaço.

Do outro lado da rua uma loja de discos - não consigo lembrar seu nome! - que o tempo dos CDs e dos DVDs engoliu. Mas o tempo jamais cessa de ir e vir! Em Viena e aqui, na FNAC, entre uns e outros, os long plays que surgiram no meu tempo de menino. Ainda conservo alguns que ganhei de presente de meu pai, entre os quais La Bohème de Puccini e inúmeras canções de Doris Day. O tempo é mesmo assim, não apita na curva, não espera ninguém!


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